ESSA INSONIA DE TE AMAR

Vejo-me sempre vazio e insone em brancas paredes dessa insólita noite escura. Sinto amargar-me a boca o gosto do fel daquela falsa fruta madura. Queria não querer e nem tentar entender toda essa dor que não tem cura. Queria saber fingir não querer e em nada mais crer, queria  ver flores nascer  em pedra lisa e dura, queria voltar a sonhar em sonos de leveza imatura, queria do mundo nada saber naquela minha natureza tão solene e pura. E então caminhar descalço indo em busca ou encalço de minha cavalgadura. Cavalgaria as nuvens tão alvas e belas mesmo nas noites mais escuras. Queria minha sombra alcançar, queria ver a eclipse lunar, jamais se libertar. Não quero amigos para apenas constar que eu apenas existi, resisti sem me amedrontar, que fui apenas um rebelde sem causa, com palavras perfumadas à serem soltas no ar e que agora já não insiste em voar, pois teme que já não hajam anjos que ousem o segurar. Deixa voar apenas o pensamento de quem muito amou e já se fez amar. Ousou conhecer a imensidão do céu dessas bocas, o azul dos olhos de oceanos, sentiu a mansidão de belos lagos no peito, dos teus rios conheceu os leitos e todo o bem querer que acariciou seus cabelos ao sabor das ondas do mar. Quero vê-la tão suavemente nua de pele macia e madura e te sentir mesmo sem te tocar. Quero agradecer a saudade por não me deixar te esquecer e por me fazer viver e morrer em sonhos de tanto te amar. Deixa ir sem rumo afinal a vagar essa alma desse sonhador que de amor jamais se deixou fartar. A energia imensa de sua transparência foi tanta que até se deixou tocar. Quando eu de fato me for, se você souber, não segure essa lágrima que insistir em seus olhos rolar, saiba que ela é capaz de até me alcançar.

Lanzoner Navegante de Outono