quinta-feira, 16 de março de 2017

AMANHECER DE INVERNO

Ao despertar de um pesadelo de noite de inverno em dias de poucos sóis, ainda sinto o calor entorpecido de mais uma noite de amor que docemente ainda me aquece, já amornando em mim assim como finda uma prece, essa paixão vesânica que enraizada em mim está e que por assim ser não mais envelhece. As juntas de meu corpo me traem, mas a mente prevalece. Manhã de que dia, nem sei, acordo e pelas entreabertas cortinas, percebo que ainda nada há de raios do astro rei,  olho de volta pra cama que muito a contragosto deixei e ali está a rainha lua, confortavelmente  serena, radiante e nua, enrolada aconchegante e quente em meus brancos e desarrumados lençóis. Nessa madrugado creio ter sido o peixe  que engoliu a isca e fui fisgado pelos seus bem torneados anzóis. O clarão do dia o meu aquecido quarto clareia, o bem-te-vi mentiroso pois ainda nem me viu, teimosamente gorjeia. Abro enfim as folhas da janela emperrada e pelo tempo já mal envernizada, vejo escorrerem serenas gotas de minhas madrugadas sempre bem e docemente compartilhadas. Enfim de amor agasalhado saio ao quintal com cuidado pra não espantar o colibri, que bebe nas folhas das plantas a água que orvalhada se instalou bem ali. Procuro o sol entre as nuvens cinzas e só vejo a sua claridade. Agradeço então a Deus pela minha vida e até pelos dias de solidão assistida, onde demonstro minha gratidão tamanha. Pois hoje já sei que em dias que não há sol nem minha sombra me acompanha. Então, nesta vida onde apenas o diamante é eterno, troco todas as noites de verão na solidão, por um amanhecer cheio de amor no inverno! Mas que necessidade tamanha, tenho muito pra viver e a fazer, volto rápido a minha calorosa cama.  Para que nomes, se já sei que se comigo está sempre será nos meus olhos um breve ou longo raio de luz, uma dama de inverno! Se o acaso fez com que desnecessária e ilusória, fosse a exagerada poesia em meu romance, deixa que brisas leves de outono desnudem de vez essa lua inspirada em mais um outro dia invadida descanse. Mas que antes devolva-me essa minha louca imaginação insurgente  que busca respostas de amor nessa pobre gente!
Lanzoner Navegante de Outono




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