A MATIZ DE TUDO QUE SE QUIS

Quem foi que  após um dia de muita felicidade e calmaria de mim se perdeu em um demorado despertar, fez hoje em meus sonhos à luz da tua imagem na gravura que ainda não consegui terminar. Já não desliza em meus braços suas doiradas melenas, já não se encontram nossas bocas pequenas e a menina destes teus olhos tão claros fez morar apenas saudades e tristeza no pobre menino dos olhos meus. Rabisco então loucamente todos os teus delgados traços. usando apenas a memória tentando nenhum detalhe errar daquele tempo que era nosso, fostes minha e eu fui teu. Mas de que me adianta, matizar esses olhos se já não consigo os alcançar. De que me servem a mesma cor no céu , o mesmo brilho na lua e o mesmo ir e vir das espumas nas ondas do  nosso mar. Como era bom de se ver a dança que havia neste seu doce balanço, caminhando sobre areias brancas., colhendo conchas para fazer-me um colar. Cruel nostalgia que há muito meus dias invade, jamais me  farás desistir, tenha eu ou não forças  para prosseguir, sejam quais forem os obstáculos que possam surgir. Atado firmemente as nossas lembranças enfrentarei setas e lanças, pois ainda tenho o beijo que destes em meu colar da esperança, já bebi intragáveis goles de licores sutilmente amargos de mulheres de boa vizinhança, pois sempre entrei onde me foi possível entrar... Intermináveis sejam as montanhas que eu tenha que escalar, levo em mim a certeza daquele que sempre ousou fazer da realidade o sonhar. Quero apenas uma única e ultima chance de em teus olhos me enxergar. E assim talvez num esforço derradeiro com a força de haver sido de ti o amor primeiro, voar em um infindável mergulho certo de ter em mim asas de amor verdadeiro e puro,  atravessarei as barreiras do tempo obscuro, Já sem obstáculos de idade a saltar. Novamente um jovem imaturo serei e o único a conseguir juntar o passado e o presente ao futuro, pois quero ao menos ter a certeza de que neste meu derradeiro salto em teu pensamento vou estar.
Lanzoner Navegante de Outono