FRUTO SAGRADO

Não sei se sempre dei valor exagerado ao nosso romance, ou se pela vida passei sem saber se em meus versos mal me expressei ou se nem sempre existiu grandeza nesse alcance. O tempo de qualquer jeito sempre passou depressa, deixando-me sempre embriagado em devaneios sem promessas. O amor é como um cálice de bom vinho que se aprecia com vagar. Mas de qualquer jeito teu sorriso sempre me deixava tonto e se em algum momento me permiti desse prazer de nós exagerar, mas jamais esqueça que de qualquer jeito um dia você prometeu nunca deixar de me amar. Todavia se no caminho certo do amor, não existem nem existirão curvas, então hoje me deliciarei no amor apenas das doces vinhas dessas uvas, pois enfim delas o bom seco ou suave o vinho vem. Assim devorarei todas luas e construirei nova vida em videiras de doces frutas maduras, cujo fruto pisado por pernas jovens e duras, nos dará o licor das aventuras. Se de tantos frutos de amores, confuso anda até o deus Baco perseguindo seus dilemas. Tomo-a então toda em seu sabor em largos cálices de ternura. Agora adormecido, sigo em delírios deitado ao lado do jardim de alfazemas. Posto que já repousa em mim sonhos entorpecendo-me as ramas em rimas, para que eu sinta que apenas foram pisadas em fortes tonéis por virgens morenas, decantadas pelo abençoado mor menestrel que já  perene lá no céu reina. Que todos louvem-no ao provar do doce sabor de sua vintage enfim, tingindo da cor púrpura todos os brancos e macios lençóis de cetim. Agora jaz anoso marcado em cabelos de tanta alvura resta-me  apenas saborear tanta fruta santa e madura, respirando a fragrância leve de todas as flores do meu jardim. Faça seu dever senhor tempo, podes passar enfim, mas deixa-me sabedoria para que eu jamais deixe de sentir dela o amor, o bouquet e o sabor, mesmo quando inadvertidamente ela apenas  passar por mim.

Lanzoner Navegante de Outono