segunda-feira, 17 de abril de 2017

REENCONTRO

Já andei a esmo em leves passos, com um pensar de solidão, com muito para escrever e sem lápis e papel às mãos. Seguia como quem pelos atalhos de seus sonhos se perdeu. Embrenhado em mata densa mas de caminho liso, é tão rente e viva essa relva que agora piso, como se fora todo esse mundo só meu, que até acho que o tempo de mim se esqueceu. Basta haver em mim o bom siso, embora até dele, talvez já não precise. Avistada de frente a clareira à sombra de minha paineira, alguém que assim como eu viveu da mesma maneira, levando seus sonhos à mão. Aproximo-me da distraída criatura de um parecer que da vida nada procura, pois de um livro grosso e de capa dura, não tira os olhos a desatenta. Quando minha presença nota, vagarosa e delicada, ergue o rosto e me fita... Senhor, que visão bonita, que olhar de ternura, que pele rosada, que delgada estrutura, que boca carnuda, perfeita, qual fruta encarnada madura . O que te trouxe aqui minha fada? Sem temores, nada assustada, cumprimentou-me  e sem dizer nada, apontou um coração desenhado ao tronco da paineira, onde havia um coração com duas letras e uma seta atravessada, uma era do meu nome e a outra da velha infância a da minha primeira namorada. Tomado pela emoção, tomei-lhe o livro da mão, com um gesto abri meu coração e entre as suas páginas guardei. De súbito duas diáfanas lágrimas pelo seu jovem rosto escorreu, ela então percebeu que grandes amores não morrem e que eu ainda a amava e que seu amor sempre fui eu. Quem já amou muito as vezes sonha junto e acho que foi isso que aconteceu. Que pena! Depois que a beijei, simplesmente acordei!
Lanzoner Navegante de Outono




Um comentário:

  1. ela então percebeu que grandes amores não morrem e que eu ainda a amava e que seu amor sempre fui eu. Quem já amou muito as vezes sonha junto e acho que foi isso que aconteceu. Que pena! Depois que a beijei, simplesmente acordei!

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