Mulher, porque nesse labirinto de amores pretendes sempre me fazer entrar? Porque estás sempre a se fazer de caça para melhor poderes caçar. Porque fazes do amor um jogo, onde sempre queres e sempre consegues ganhar. E nós homens invariavelmente tolos, não cansamos de apostar. Que saudades da menina acanhada, que quando cortejada em uma palavra mal desferida, se fazia ruborizar. Já não posso te chamar de pequena, pois tua estatura agigantou-se, perdestes a pureza no olhar, entrincheirastes teus pudores e teu puro amor duramente enclausurou. Já não posso de chamar de minha garota, pois tão jovem já se transformou e já me fazes tanta falta, frágil e trigueira morena, que meu coração jovem e puro tão docemente cortejou. Que culpa podem ter os bons, pelo mal que apenas um inconseqüente te causou. Porque nessa atual juventude aturdida, deu-se espaço a más opções de vida, onde o saudável e puro romantismo tragicamente se perdeu. Acho-me agora obsoleto, já não me basta compor sonetos e tampouco fazer solfejos, para quem não quer solfejar. Isso é como ensinar canto a corvos ou no deserto pregar. Jogo ao léu estes versos e que os alcance quem os quiser alcançar, pois não posso dar mais luz a lua nem as estrelas realçar. Mas espero que mesmo entre a sombria opacidade da fuligem desta cidade perdida, em qualquer parte ainda reste saudável vida, onde hajam jovens com meigos sorrisos e algum encantamento no olhar. Ou enlouqueçam todos e caminhem sobre folhas caídas deste outono e só vejam flores ao seu redor, em alamedas que vivemos sempre a caminhar, nesse novo dia que sempre está a começar. Não deixem jamais essa selva de pedra os teus sentimentos engolir, pintem-na toda em floridos jardins com lápis de colorir para essa vida realçar.
Lanzoner Navegante Leves de Outono
Nenhum comentário:
Postar um comentário